Dezembro: obrigação e tristeza

Particularmente, não gosto do mês de dezembro. Nada contra o mês em si, é como qualquer outro, mas o que fizeram dele: no mês de dezembro, com a proximidade das festas natalinas, tudo de tenso e chato acontece. O trânsito, que já não é bom, fica infernal e ainda mais agressivo; shoppings e mercados permanecem abarrotados; as ruas ficam lotadas; as pessoas permanecem desesperadas em ter que comprar, fazer, dar conta...

Na minha vida profissional como psicóloga, tenho ouvido as mais variadas queixas, nas quais fica claro um sentimento, primeiro de obrigação, e, segundo, de tristeza.

A obrigação deve-se ao fato de que as pessoas literalmente se obrigam a fazer ou a participar de festas, reuniões, rituais e eventos onde já sabem que irão encontrar gente chata, desafetos... Já ouvi centenas de queixas de "então, de novo a reunião vai ser lá em casa e eu tenho que fazer tudo, arrumar tudo, deixar tudo ok; agradar, todo mundo tem que gostar e se sentir feliz, tenho que, tenho que, tenho que... E todo mundo vai ter que...“.

Onde já se viu assumir a responsabilidade de deixar alguém feliz? Cada um fica feliz se ele mesmo quiser, não temos o poder de fazer alguém feliz.

A tristeza vem como resultado da comparação com um ideal imposto pelas mídias (e pela sociedade) e da vida real ser bem diferente desse ideal!

Seja porque os pais já morreram, a família não é tão unida ou tão grande, os filhos estão fora; alguém está brigado, alguém está doente, etc. A vida real não é perfeita.

A sensação de infelicidade vem porque as pessoas não aceitam as coisas e outros como eles são; nem mesmo aceitam a si mesmas como são, já que não respeitam seu próprio livre arbítrio, enchendo-se de pressões e obrigações.

Não aceitar a realidade é a principal característica que define pessoas mimadas, que vivem fora da realidade e querem família de comercial de margarina. Algumas até se cobram gerar essa família irreal, não conseguem, vitimizam-se, depreciam-se, sentem-se sem valor. Pior que é nessa data que as mídias e religiões mais nos massacram as ideias distantes do nosso possível.

Gente, precisamos amadurecer urgentemente!

Eu me pergunto até quanto as pessoas vão se auto-desrespeitar mantendo rituais que não mais lhes trazem significado, somente por tradição irracional.

Vamos deixar a hipocrisia de lado. Por que nesse mês todo mundo "tem" que ser bonzinho? Amar quem não ama?

E a troca obrigatória de presentes? A bebedeira de alguns, que leva a brigas e a acidentes... A mesa tão farta que gera desperdícios até mesmo de produtos de origem animal... Absurdo! Ignorância! Egoísmo! Falta de refletir sobre... Reflitam. É mesmo necessário? Que tal ao menos prevenir os desperdícios e exageros?

Claro que eventualmente há as pessoas que gostam de festas natalinas e eu as respeito muito! Só que com essa reflexão, gostaria de propor um pouco mais de espontaneidade: que o amor seja verdadeiro, na medida em que você o sentir; que você trate o outro bem, mas também se trate bem, que não haja a necessidade de se embriagar para sentir a tal felicidade obrigatória. Que a felicidade não seja obrigatória!

Que tal trabalhar mais a expressão verdadeira do que sente? Será que não seria mais leve?


E, uma coisa importante, Jesus e o tal do "espírito natalino" de paz, amor e caridade verdadeira (com todos os seres vivos) é algo a ser cultivado e cultuado todos os dias, não só em dezembro. 



Para mais, acesse Matérias.


Um comentário:

  1. As pessoas costumam fazer, fazer, fazer, especialmente nessa data, pois precisam se atolar de barulhos e atividades para não entrarem em contato consigo mesmas e correr o risco de parar para notar que o ano não foi assim tão ideal... E que a vida não é assim tão ideal.
    É tão difícil lidar com isso que as pessoas fogem o quanto podem, mas seus sentimentos escapolem se transformando em estresse, tristeza e desânimo...
    Só que elas sufocaram tanto tantas coisas que nem sabem ao certo porque agora estão tristes...
    Sufocante mesmo!

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